Em quatro dias de mostra, público ocupa Cinema São Luiz e (re)conhece África nas telas


por Mariana Reis*




Cinema São Luiz em dia de exibição da Baobácine | Foto: Caue Rocha


Quatro dias de mostra, sete filmes apresentados, entre curtas, médias e longa-metragens; um minicurso sobre cinematografias africanas com 25 vagas que precisaram ser ampliadas para 50, devido ao grande número de inscrições; uma roda de conversa com realizadoras negras, composta por representantes de quase toda cadeia produtiva do audiovisual – produção, formação, direção, atuação –; uma feira de afroempreendedorismo com expositores do estado, ocupando o primeiro andar do Cinema São Luiz e movimentando a economia criativa local. 

Participantes do minicurso | Foto: Caue Rocha

Os números podem parecer frios, mas quem esteve presente em qualquer um dos dias da primeira edição da Baobácine – Mostra de Filmes Africanos do Recife, pôde experenciar, de fato, um pouco da diversidade da produção cinematográfica africana que atravessou o Atlântico e ocupou a tela do Cinema São Luiz, abarcando clássicos, documentários, produção autoral de mulheres cineastas, entre outros gêneros. Além de dialogar sobre a produção audiovisual negra em África e na diáspora, a partir das atividades paralelas, colaborando, assim, para a formação de plateia. Em tempo: a mostra foi realizada com recursos do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), política pública que, há 15 anos, atua no fomento à produção cultural no estado.

Ana Roberta Amorim foi uma das participantes do minicurso Para Além de Nollywood: experiências contemporâneas do cinema autoral africano, facilitado por Janaína Oliveira, do Fórum Itinerante de Cinema Negro (FICINE) e curadora do Baobácine. Idealizadora do Projeto “A Cor da Minha Tela”, que investiga a representação do negro nas telenovelas brasileiras, Ana Roberta observa que a importância da formação em cinema africano é sair do referencial de um cinema eurocêntrico e norte-americano, que trazem uma visão estereotipada sobre o continente africano. 

Roda de conversa debateu sobre mulher negra no cinema | Foto: Caue Rocha


“É importante a gente não só reconhecer, mas também reproduzir isso, sabe? Repassar outras referências de uma África que tem várias culturas, várias linguagens, várias visões de mundo. E trazer pra perto da gente esse conhecimento foi o que me motivou a participar”, afirma Ana Roberta, torcendo para que a mostra e o minicurso possam alcançar novos públicos, a partir de futuras edições.

Na avaliação de Raquel Santana, uma das organizadoras da mostra, os resultados do Baobácine surpreenderam positivamente toda a equipe envolvida no projeto. “A gente considera que foi muito positivo, ficamos surpresas com a quantidade de público. Mesmo com a conjuntura difícil com a crise do transporte, em todos os dias da mostra tivemos um público expressivo, não só no cinema, mas nas atividades paralelas, inclusive na roda de diálogo de encerramento que teve uma presença maciça de participantes, no último dia, num sábado, mesmo com as dificuldades que as pessoas tiveram em chegar ao local”, considera.

E vibra: “A gente está bem feliz com essa primeira edição e esperamos que a mostra tenha vida longa!” No que depender da simbologia da árvore de raízes profundas que nomeia a mostra audiovisual, as expectativas de longevidade e resistência são as melhores possíveis. 

*Integrante do Terral Coletivo de Comunicação Popular


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